Comentário Sobre Filme

Filme “Aos Treze”, indicado na disciplina Psicologia do Desenvolvimento e Teorias da Aprendizagem.

Escrito por Marcia Maria Aires Nunes
Qua, 07 de setembro de 2011.

Será que o ritual de passagem da infância para a fase adulta que ocorre lá pelos treze anos pode transcorrer fluente e naturalmente em alguns viventes de qualquer civilização humana? Será que os aspectos internos e externos podem metabolizar-se em harmonia, sem deixar rupturas dolorosas e doloridas? Será que essa passagem é indicativo do segundo nascimento numa mesma encarnação, e então um novo ser pode transitar para o próximo ciclo em sua escalada evolutiva sem maiores solavancos?

No caso de Tracey as coisas estavam indo bem até que, lá pelos treze anos, ela quis ser admirada e aceita pelo grupo. Queria ser como Evie, a mais comunicativa e liberada da escola que, no entanto, para se manter no pedestal, trapaceava e mentia sem nenhum constrangimento. Tudo a ver com a família e a sociedade consumista onde ela estava inserida.

As famílias das duas meninas estavam tão envolvidas com questões práticas de sobrevivência imediata que não se deram conta de facilitar o ritual de passagem de suas legítimas herdeiras e sucessoras. Os pais de ambas estavam ausentes, agora com outros filhos, enquanto as mães trouxeram outro personagem (namorado) para ocupar o lugar vago deixado a partir de uma relação cheia de pendências e assuntos mal-resolvidos. Os valores e papeis estavam confusos, indefinidos e fragilizados, deixando uma sensação de ameaça em qualquer gesto e palavra. As meninas foram então se descobrindo num caminho tortuoso em noite de escuridão. Daí tornaram-se presas fáceis dos obstáculos comuns nessa fase da vida numa sociedade consumista na qual elas conviviam: sexo fácil, drogas, competição  desenfreada, futilidades, alegrias passageiras, tudo muito fashion. Se na primeira etapa (infância) tudo parecia sob controle, ao alcance da mão, agora as coisas deveriam ser conquistadas aos berros, entre ofensas e lágrimas. Por sorte a mãe da Tracey não a abandonou; no fim o amor sempre vence.

Talvez a passagem de um ciclo para outro pudesse ser mesmo diferente se não tivessem deixado tudo para a última hora, a hora de se fazer novas escolhas e definições para a próxima etapa da vida. A hora dos treze. Afinal, se as pessoas sabem que vai ser assim, por que não se preparam melhor? Por que se esquecem de como foi quando era a sua vez?